A intensificação da concorrência no mercado brasileiro forçou a TAP Air Portugal a reduzir tarifas nas rotas com origem e destino no Brasil, o que contribuiu para uma quebra de 6% nas receitas geradas neste segmento durante o primeiro trimestre do ano. A revelação foi feita por Carlos Antunes, diretor da companhia aérea para as Américas, em declarações ao Diário de Notícias.

“Ao aumentarem mais a capacidade do que nós, os concorrentes lançam uma guerra comercial — e de preços — à qual temos de responder. Quando o mercado baixa os preços, somos obrigados a seguir”, justificou o responsável.

A transportadora portuguesa iniciou 2025 com um desempenho condicionado por vários fatores: a agressividade tarifária dos concorrentes, um aumento marginal da sua própria capacidade no mercado (apenas 2%, face aos 18% dos rivais), e ainda o impacto da ausência da Páscoa no primeiro trimestre, que, tradicionalmente, gera um pico de procura.

Menos capacidade, aviões mais pequenos

Apesar de novas ligações como Florianópolis (estreada em setembro de 2024) e Manaus (retomada em novembro), a TAP operou com menos frequências em algumas rotas, nomeadamente para Porto Alegre, que só retomou em abril. A dimensão das aeronaves usadas também contribuiu para esta limitação: enquanto a rota para Porto Alegre utiliza um A330-900neo com quase 300 lugares, Florianópolis é servida por um A330-200 com menos 30 lugares e Manaus por um A321neo de apenas 154 lugares, partilhado com Belém.

Campanhas para combater sazonalidade

Em resposta à fraca procura, a companhia lançou campanhas promocionais após a Páscoa, com descontos para impulsionar as vendas. “Fazemos isso com frequência para estimular a procura e depois ajustamos a capacidade conforme os resultados das campanhas”, explicou Carlos Antunes.

Apesar das dificuldades, o responsável mostra-se confiante no desempenho da operação brasileira durante o verão: “Mesmo sem um aumento expressivo da capacidade, o nosso objetivo é igualar os números de 2024”, garantiu.

Investimento no Brasil condicionado por plano de reestruturação

Com um total de 15 rotas diretas entre Portugal e o Brasil (13 a partir de Lisboa e duas a partir do Porto), a TAP não planeia novas ligações até ao final de 2025. A prioridade, afirma Carlos Antunes, é consolidar a operação existente, uma vez que a companhia ainda está sujeita às restrições do plano de reestruturação aprovado pela Comissão Europeia, que impôs um limite de 99 aviões operacionais.

“Estamos a substituir aviões mais pequenos por outros maiores sempre que possível, mas precisamos de manter aeronaves de menor dimensão para garantir a operação dentro da Europa”, explicou.

Pressões regionais sem resposta imediata

Vários estados brasileiros têm apelado à abertura de novas rotas, incluindo Belo Horizonte, João Pessoa e Curitiba. No entanto, a TAP descarta, para já, qualquer expansão. “Já temos seis frequências semanais para Belo Horizonte, não faz sentido aumentar sem uma procura sólida”, argumenta. Sobre João Pessoa e Curitiba, Antunes foi claro: não existem planos nem condições operacionais — como é o caso da pista curta em Curitiba — para avançar com novas ligações.

Também do lado português, os pedidos para novas rotas a partir da Madeira e do Algarve não deverão ter resposta positiva. “Não há procura que justifique voos diretos para o Brasil a partir do Funchal ou de Faro”, afirmou o gestor, considerando ainda que “não faz sentido vender o Algarve como destino de praia para brasileiros quando Lisboa fica a apenas 200 quilómetros”.

Portugal deixou de ser o destino principal dos brasileiros que voam na TAP

Apesar de ter transportado dois milhões de passageiros entre o Brasil e Portugal em 2024, apenas 40% destes viajantes permanecem em território nacional — e muitos apenas em regime de stopover. Carlos Antunes vê este dado como uma oportunidade, e não como uma ameaça.

“Portugal já não é o principal destino dos brasileiros, mas a TAP continua a ser a companhia europeia que mais passageiros transporta da América do Sul para a Europa”, destacou, sublinhando que é o modelo de hub em Lisboa — com ligação a 50 destinos europeus — que sustenta esta operação.

Mesmo com a maioria dos passageiros a seguir viagem para outras capitais europeias, a TAP continua a beneficiar a economia portuguesa. “Somos o maior exportador de serviços de Portugal, representamos cerca de 1,8% do PIB. Cada passageiro que compra um bilhete connosco, mesmo que o destino final seja Roma ou Frankfurt, está a gastar em Portugal”, concluiu.