Luís Rodrigues, presidente executivo da TAP, cumpre esta semana dois anos à frente da companhia aérea, embora o seu mandato, que terminou no final de 2024, ainda não tenha sido renovado. A decisão sobre a sua recondução ficará a cargo do próximo Governo, após as eleições.
Nem o próprio gestor nem o atual Executivo confirmaram até agora a continuidade de Luís Rodrigues à frente da transportadora aérea. A decisão foi adiada, com o Governo a optar por deixar essa responsabilidade para a legislatura seguinte.
No final do ano passado, perante o fim iminente do mandato e questionado sobre a sua possível permanência no cargo, Luís Rodrigues limitou-se a referir que a relação da administração com o Ministério das Infraestruturas era “sempre ótima”, desvalorizando a urgência de uma decisão sobre o tema.
“Estamos tranquilamente a desempenhar as nossas funções, convictos de que esta questão será resolvida quando o acionista assim o entender”, afirmou numa conversa com jornalistas.
O gabinete do ministro Miguel Pinto Luz esclareceu que, tendo em conta o contexto político atual, o Ministério das Infraestruturas e da Habitação não pretende nomear novos gestores públicos até ao final do mandato deste Governo.
Desde que assumiu funções a 14 de abril de 2023, Luís Rodrigues destacou-se pelo desempenho financeiro da empresa, encerrando o primeiro ano com um lucro histórico de 177,3 milhões de euros. Um dos principais objectivos da sua gestão foi manter a TAP longe de polémicas mediáticas, especialmente durante a comissão parlamentar de inquérito relacionada com a controversa indemnização que resultou na saída da anterior CEO, Christine Ourmières-Widener.
Entre os marcos do seu mandato, destaca-se também a obtenção de consensos com os 13 sindicatos representativos dos trabalhadores da TAP, garantindo um período de estabilidade laboral sem precedentes na empresa.
Proveniente da transportadora açoriana SATA, onde enfrentou desafios semelhantes, Luís Rodrigues chegou à TAP num momento de grande tensão social, herdando uma situação complexa em termos laborais, marcada por conflitos entre a administração anterior e os sindicatos.
No dia em que regressou à TAP — onde já tinha desempenhado funções de administrador entre 2009 e 2014 — assumiu como prioridade o diálogo com os representantes dos trabalhadores e a revisão dos cortes salariais aplicados no âmbito do plano de reestruturação, que impunha reduções de 20% em salários superiores a 1.520 euros.
“Não sou uma estrela nem um herói. Sou apenas alguém com a responsabilidade de resolver os problemas dos passageiros e dos trabalhadores”, declarou na altura aos jornalistas.
A sua abordagem foi amplamente elogiada pelos sindicatos e permitiu alcançar novos acordos de empresa, pondo termo aos cortes salariais. No entanto, o segundo ano de mandato trouxe novos desafios.
Apesar de manter a TAP com resultados positivos — 53,7 milhões de euros de lucro —, surgiram tensões com alguns sindicatos, nomeadamente com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que criticou a nova tabela de ajudas de custo apresentada pela empresa, alertando para uma possível quebra na paz social.
Além disso, enfrentou uma greve dos pilotos da Portugália (SIPLA), numa altura em que a companhia foi integrada na TAP SA no âmbito do processo de reprivatização, entretanto suspenso devido à queda do Governo liderado por Luís Montenegro.
A nível interno, registou-se ainda a transferência da área dos recursos humanos para o administrador financeiro, Gonçalo Pires, uma mudança que gerou críticas por parte de algumas estruturas sindicais.