Filipa Brito Pais, sobrinha-neta do aviador Brito Pais, que há 100 anos fez a primeira viagem aérea de Portugal para Macau com Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, acaba de lançar o livro que conta esta história aos mais novos. “A aventurosa viagem do Pátria” tem prefácio do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

As Edições Afrontamento acabam de lançar em Portugal mais uma obra que conta a viagem do “Pátria”, nome do avião que, há 100 anos, percorreu os céus desde Vila Nova de Mil-fontes até Macau, a primeira viagem do género a ser realizada . Aos comandos estavam os aviadores Brito Pais e Sarmento de Beires, bem como o mecânico Manuel Gouveia.

Filipa Brito Pais, sobrinha neta do aviador Brito Pais, e professora do primeiro ciclo do ensino básico, é autora de “A aventurosa viagem do Pátria”, destinada a um público infanto-juvenil, e com desenhos de Leonor Almeida.

A autora revela que o livro se dirige a pequenos leitores a partir dos oito anos, mas “pode ser adaptado a adultos que queiram conhecer a história mais rapidamente e que gostem de banda desenhada”.

Houve muitas aventuras a ficar de fora, embora haja muitas por contar. “Não retratar todas as etapas, porque seria impossível que o feito por ser para crianças. É um livro cuja história é bastante reduzida, até a pedido do meu editor, porque queria medir todas as peripécias e aventuras que eles viveram. A história de escreverem no ecrã do avião, na partida, foi uma das que não escrevi. O facto de Manuel Gouveia [o mecânico], dizer que era um homem do Norte, e que se fosse para morrer, morria-se. Outra do banho tomou a água fria que no final foi água a ferver.”

São peripécias “demonstrativas de coragem e perseverança, capacidade de liderança”, sendo que este é um livro com uma mensagem forte, para que os jovens “não desistam dos seus sonhos”.

Filipa Brito Pais cresceu ao ouvir algumas histórias da grande aventura protagonizada pelo seu tio bisavô, e contada em livro pelo seu companheiro de viagem, Sarmento de Beires. Com as atividades de comemoração do centenário da viagem, Filipa recorda que os mais novos gostavam da história, mas não havia material de leitura para lhes transmitir a aventura.

A ideia de fazer um livro começou a surgir a partir de 2017, quando, por ironia do destino, Filipa Brito Pais foi colocada numa escola em Colos, Odemira, na Escola Básica Aviador Brito Pais. Colos é a terra dos seus avós, e aí, com os colegas, a Filipa começou a falar de uma história desconhecida.

“Com o aproximar do centenário surgiram convites para eu ir à escola dar palestras, entre as quais a Escola Portuguesa de Macau. Senti que, realmente, existia curiosidade e tanto as crianças como os jovens gostam da história, mas não havia literatura sobre o assunto. Depois, nas palestras, levava comigo para a literatura para adultos, nomeadamente o original de Sarmento de Beires com cerca de 100 anos. Face à mensagem que transmito nas minhas palestras, no sentido dos jovens não desistirem dos sonhos, para terem a coragem que os aviadores tiveram, comecei a adaptar para criar este livro”, conto.

Filipa Brito Pais conheceu ainda “a tia Céu”, que foi uma grande impulsionadora da angariação de fundos feita em todo o país para que a viagem pudesse acontecer, e que conto com apoios financeiros das famílias dos aviadores. Tal movimento chegou a aparecer nos jornais da época e a gerar bastante entusiasmo.

“Lembro-me de ir a casa dela e ainda ouvir as histórias. Como criança as coisas estão a surgir, temos os quadros e os livros. A minha avó falava muito dele, a minha bisavó também. A nossa casa era na Rua dos Aviadores, em Vila Nova de Mil-fontes, que acolhia os aviadores quando estava em Mil-fontes.”

Filipa Brito Pais lamenta que a história seja hoje “bastante esquecida em Portugal, ao contrário do que acontece em Macau”, por oposição à muito conhecida viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

“Foi uma história apagada da história por questões políticas que hoje conhecemos, e em Colos percebi que havia um grande carinho por ela. Com o centenário caiu a haver maiores movimentações na família no sentido de honrar e continuar o legado deixado pelo meu tio bisavô.

“A aventurosa viagem do Pátria” contém, assim, uma “aventura épica” feita em 1924, quando estes três homens deixaram “o nome de Portugal na História da Aviação Mundial”.

“Brito Pais e Sarmento de Beires sonharam voar e em honrar a Pátria e Camões, escolhendo o destino de Macau, que nessa altura era terra portuguesa. Sem apoios financeiros e com um avião velho e pesado, arriscaram e voaram por países que até então, ninguém se tinha atrevido a voar. Foram muitas as aventuras e puderam ter desistido perante as adversidades que foram encontrando, mas não! Eles continuaram.”

Na mesma descrição do livro, é apontado que a obra revela “não só a força portuguesa e o amor à Pátria destes três heróis nacionais, esquecidos na história, como também mostra que nunca devemos desistir dos nossos sonhos até alcançar o nosso objectivo”.