As ações da Azul caíram 23,45% na Bolsa de São Paulo no fim desta semana, atingindo novos mínimos históricos, devido à crescente preocupação dos investidores em relação às possíveis medidas que a companhia aérea poderá adotar para lidar com as suas dívidas.
Segundo uma reportagem publicada pela Bloomberg News na quarta-feira (28), com base em informações de fontes próximas ao assunto, a Azul está a considerar várias alternativas, desde uma oferta de ações até à possibilidade de recorrer a um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, como forma de enfrentar as suas obrigações financeiras que se aproximam.
Fontes ligadas à Bloomberg indicam que a Azul está a tentar evitar o pedido de recuperação judicial e, por isso, está a trabalhar com o Citi numa possível oferta de ações ou numa emissão de novas dívidas através da sua divisão de carga.
Além disso, a companhia aérea está a avaliar a possibilidade de fusão com a Gol, que atualmente está a passar por um processo de recuperação judicial nos EUA. Esta fusão seria uma tentativa de mostrar aos credores que a nova entidade resultante teria menos dívidas e melhores perspetivas de crescimento. Contudo, essa estratégia é vista com cautela, dadas as necessidades imediatas de liquidez da Azul e os fracos resultados financeiros da empresa.
A Gol, por seu lado, entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos, enfrentando passivos de curto prazo no valor de 2,7 mil milhões de dólares (15,23 mil milhões de reais) e realizando várias renegociações de dívida. Outras companhias aéreas da América Latina, como a Avianca, Latam e Aeroméxico, também passaram por processos semelhantes nos últimos anos.
Ao contrário das suas concorrentes brasileiras, a Azul conseguiu evitar a recuperação judicial durante a pandemia de Covid-19, optando por adiar os seus vencimentos através de uma troca de títulos em junho de 2023. No entanto, a empresa continua a enfrentar obrigações de leasing e elevados pagamentos de juros sobre a sua elevada dívida.
Com a desvalorização do real, os custos da empresa aumentaram, especialmente os relacionados com leasing e combustível, ambos indexados ao dólar. A Azul tem 382 milhões de reais em títulos de 2024 a pagar este ano, além de 550 milhões de dólares que deverão ser liquidados nos próximos quatro anos.
Poucas horas após a publicação da reportagem da Bloomberg, a Azul emitiu um comunicado ao mercado, esclarecendo que a notícia foi “mal interpretada”.
A empresa sublinhou uma série de iniciativas que já tinha anunciado anteriormente, incluindo negociações para uma possível combinação com a Gol e a sua capacidade de angariar até 800 milhões de dólares, utilizando a Azul Cargo como garantia.
A Azul também informou que está em negociações com os seus principais “stakeholders” para otimizar a estrutura de capital estabelecida no plano de otimização implementado no ano passado, e que essas negociações têm demonstrado avanços positivos.
A queda nas ações da empresa ocorreu após a divulgação de um prejuízo líquido de 3,87 mil milhões de reais no segundo trimestre, além de um aumento da sua dívida líquida. O rácio de alavancagem da companhia subiu para 4,5 vezes o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), comparado com 3,7 vezes no trimestre anterior, de acordo com os dados mais recentes.
Adicionalmente, a empresa reviu em alta a sua previsão de alavancagem para o final do ano, atribuindo o agravamento ao câmbio desfavorável e às inundações no Rio Grande do Sul, que afetaram o principal aeroporto de Porto Alegre, que ainda se encontra fechado devido aos danos.