O sindicato dos pilotos afirmou que vai pedir ao Governo para rever o plano de reestruturação da TAP com Bruxelas, que impede a companhia de crescer, e rejeitou que os salários sejam a grande causa dos prejuízos.
“Vou fazer o apelo a este Governo, o plano de reestruturação da companhia estrangula a própria, por mais que queiramos aumentar os lugares disponíveis para aumentar os lucros, não conseguimos”, disse à Lusa o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), Tiago Faria Lopes.
O dirigente sindical rejeitou que os salários dos trabalhadores sejam o principal motivo para o aumento do prejuízo da companhia aérea no primeiro trimestre, para 71,9 milhões de euros negativos, e lembrou que a transportadora perdeu 90.000 lugares para as companhias norte-americanas que começaram a voar para Portugal no inverno.
Devido ao plano de reestruturação, acrescentou, a TAP não consegue explorar novos mercados, para fazer face à nova concorrência.
“O que deveria ser pedido a Bruxelas de forma factual é: já é o segundo ano consecutivo que a TAP Air Portugal dá lucro e queremos rever o plano de reestruturação, porque já provámos que conseguimos ser uma empresa altamente rentável”, defendeu Tiago Faria Lopes.
O representante lembrou ainda que o primeiro trimestre é habitualmente fraco para as companhias aéreas e que, além da massa salarial, também os impostos e pagamentos aos fornecedores contribuíram para o resultado negativo.
“Embora nos livros diga que a massa salarial faça parte de um custo, temos que ver isso como um investimento, porque são os trabalhadores que dão à empresa a sua rentabilidade, assim como a sua gestão e assim como a sua área operacional, mas os trabalhadores contribuem muito para a eficácia da empresa”, realçou o dirigente sindical.
Tiago Faria Lopes, que está demissionário uma vez que o SPAC vai eleger novos representantes em maio e junho, acredita que os resultados dos segundo e terceiro trimestres “serão muito positivos”, também fruto do investimento da companhia aérea nos trabalhadores.
“Não nos podemos esquecer que a TAP, fruto dessa paz social e paz laboral teve, sem benefícios fiscais e sem cortes salariais, um aumento de 270% do lucro em 2023 face a 2022. […] Está aqui a prova dada que a massa salarial, para os livros, de facto é um custo, e eu aceito que seja identificado como tal, mas temos de ver, por outro lado, que seja um investimento, porque esse investimento tem retorno”, vincou.
Em comunicado divulgado, a TAP referiu que os custos operacionais recorrentes no primeiro trimestre atingiram os 905,2 milhões de euros, um aumento de 7% (mais 59,1 milhões) em comparação com os primeiros três meses do ano de 2023, e que esta variação resulta principalmente do aumento dos custos com o pessoal (+70,5 milhões ou 56,9%) devido aos novos acordos de empresa, “contrabalançado pela redução do custo com combustível (-23,6 milhões) devido a um preço mais baixo do jet fuel”.
Na mesma nota, o presidente executivo da TAP, Luís Rodrigues, considerou que a empresa prosseguiu o “processo de transformação estrutural” que era exigido.
“O investimento nas nossas pessoas, incluindo o fim dos cortes salariais, correções da elevada inflação e os novos acordos de empresa têm um impacto imediato no resultado, mas os benefícios continuarão a materializar-se ao longo do tempo”, acrescentou o líder da transportadora.