Os trabalhadores do aeroporto de São Tomé deram sete dias ao Governo para esclarecer a alegada “iminente privatização da empresa”, sob pena de entrarem em greve e rejeitar o processo, segundo documento a que a Lusa teve hoje acesso.

“Já há algum tempo temos notado movimentações que indiciam uma iminente privatização da empresa sem que seja acautelada a situação dos trabalhadores”, lê-se no pré-aviso de greve enviado ao ministro das Infraestruturas, Recursos Naturais e Meio Ambiente, Adelino Cardoso, com cópia para o Presidente da República, primeiro-ministro, e algumas empresas de aviação.

Na carta, datada de quinta-feira, o núcleo do Sindicato da Empresa Nacional de Aeroportos e Segurança Aérea (Sinasa) refere que, “atento as movimentações internas coadjuvadas com as informações internas e externas”, ficaram a saber da “ocorrência de um processo de privatização que até ao momento não foi esclarecido nem pela direção da Enasa, nem pelo Ministério da tutela, apesar de todo o esforço feito pelo Sinasa para obter os devidos esclarecimentos”.

O Sinasa afirma ter feito várias tentativas para se reunir com o ministro da Infraestruturas, Adelino Cardoso, mas “nada aconteceu até ao momento”, e que, quando questionaram o diretor da Enasa sobre o assunto, o mesmo disse que “não tem qualquer informação” sobre o processo “e que só lhe disseram que as obras vão arrancar em janeiro” do próximo ano.

“Cansados com a espera e apercebendo-nos da falta de vontade para esclarecer o processo de privatização que certamente preferem manter às escondidas até o dia da consumação e porque os trabalhadores não estão dispostos a esperar mais tempo, a assembleia dos trabalhadores” reunida na quinta-feira decidiu “estabelecer um período de sete dias úteis” para a comparência no ministro das Infraestruturas na Enasa “para dar o devido esclarecimento” aos trabalhadores.

“Caso não haja esclarecimentos devidamente convincentes suspenderemos todos os serviços até que a quem de direito venha nos informar sobre todos os assuntos ligados a privatização da Enasa”, lê-se no documento, o qual exige que “todo o processo seja informado ao sindicato “sob pena de ser rejeitada” a privatização.

Desde terça-feira, também os trabalhadores do porto de São Tomé protestam contra uma alegada concessão, por cinco anos, dos serviços portuários a uma empresa francesa e submeteram pré-aviso de greve, na quinta-feira, para paralisar os serviços a partir de 10 de janeiro, se não obtiverem esclarecimentos do Governo.

Num comunicado datado de quarta-feira, o Ministério das Infraestruturas garantiu que “o Porto permanecerá sempre na esfera jurídica do Estado são-tomense” e “será gerido por uma direção nacional e controlado pelo Estado”, mas contará com a “assistência técnica e operacional de uma equipa de peritos internacionais competentes e experientes em matéria de gestão portuária”.

O gabinete do ministro das Infraestruturas, Adelino Cardoso, assegura que o contrato com a empresa África Global Logistic (AGL) “não se trata de modo algum de uma privatização ou de concessão”, mas sim de um “acordo de gestão operacional”.

A Lusa tentou contactar o Ministério das Infraestruturas sobre o assunto, mas não teve sucesso.