A Ryanair anunciou um lucro líquido anual de 1,61 mil milhões de euros no exercício fiscal de 2025, um recuo face aos 1,92 mil milhões do ano anterior, apesar de uma redução média de 7% nas tarifas. A transportadora irlandesa de baixo custo fez ainda história ao tornar-se a primeira companhia aérea europeia a ultrapassar os 200 milhões de passageiros transportados num só ano — um crescimento de 9% no tráfego —, alcançado apesar dos persistentes atrasos nas entregas de aeronaves por parte da Boeing.

As receitas provenientes de voos regulares cresceram apenas 1%, situando-se nos 9,23 mil milhões de euros, mas as receitas totais subiram 4%, atingindo 13,95 mil milhões, impulsionadas por um aumento de 10% nas receitas acessórias, que totalizaram 4,72 mil milhões de euros. A empresa justificou a redução das tarifas com o abrandamento do consumo na primeira metade do ano e uma quebra nas reservas feitas através de agências de viagens online. Ainda assim, a estratégia de preços agressiva ajudou a estimular a procura e a manter elevados os fatores de ocupação.

Os custos operacionais aumentaram em linha com o crescimento do tráfego (mais 9%, totalizando 12,39 mil milhões de euros), mas mantiveram-se estáveis por passageiro, reforçando a principal vantagem competitiva da companhia em relação a outras transportadoras europeias.

A Ryanair mantém uma das posições financeiras mais sólidas do setor, com quase 4 mil milhões de euros em caixa bruta e 1,3 mil milhões em caixa líquida no final do ano fiscal. A empresa recomprou e cancelou 7% das suas ações em circulação e anunciou um dividendo final de 0,227 euros por ação, a pagar em setembro (mediante aprovação em assembleia geral). O conselho de administração aprovou ainda um novo programa de recompra de ações no valor de 750 milhões de euros, a decorrer nos próximos 6 a 12 meses.

A frota da companhia atingiu as 618 aeronaves, incluindo 181 Boeing 737-8200 “Gamechangers”, modelos mais eficientes em termos de combustível e com maior capacidade. Embora os atrasos nas entregas limitem o crescimento a 3% no próximo exercício (com um objetivo de 206 milhões de passageiros), a empresa mantém-se confiante na chegada das aeronaves em tempo útil para sustentar o crescimento projetado até 2034, ano em que ambiciona transportar 300 milhões de passageiros anuais.

Para o verão de 2025, a companhia prevê lançar mais de 160 novas rotas, direcionando capacidade para mercados que oferecem incentivos fiscais e apoios ao crescimento. A Ryanair destacou ainda a limitação da capacidade no mercado europeu, resultante de constrangimentos na cadeia de fornecimento, atrasos por parte dos fabricantes e consolidação do setor — fatores que poderão beneficiar o seu modelo de baixo custo nos próximos anos.

Durante o último ano fiscal, a empresa adicionou 30 novas aeronaves “Gamechanger” e continuou a modernização da frota, instalando “winglets” em mais modelos 737NG, com o objetivo de operar 409 aeronaves eficientes até 2026. Estas iniciativas contribuem para a meta de redução de 27% das emissões de CO₂ por passageiro-quilómetro até 2031, validada pela SBTi. A transportadora manteve também as melhores classificações ESG do setor, com ratings de MSCI (A), CDP (A-) e Sustainalytics, reforçando a sua liderança em sustentabilidade.

A Ryanair levantou as restrições à aquisição de ações ordinárias por cidadãos de fora da UE, após uma análise detalhada da sua estrutura de controlo e propriedade. Apesar de continuarem em vigor restrições de voto, tanto investidores da UE como de fora da UE podem agora deter ações através da Euronext Dublin ou de ações depositárias na Nasdaq. Com esta mudança, a Ryanair passou a integrar o índice MSCI World a partir de maio de 2025.

O membro do conselho de administração, Howard Millar, deixará funções em setembro, após décadas de serviço e um papel determinante na transformação e sucesso financeiro da companhia.

Para o exercício de 2026, a Ryanair antecipa uma recuperação modesta das tarifas, apoiada por uma forte procura no primeiro trimestre e uma época pascal completa. No entanto, a empresa alerta para incertezas persistentes na segunda metade do ano, relacionadas com tensões geopolíticas, inflação e problemas nos serviços de controlo de tráfego aéreo. Apesar de manter uma perspetiva cautelosamente otimista quanto ao crescimento do lucro líquido, a Ryanair optou por não divulgar projeções específicas para o ano.

O CEO, Michael O’Leary, concluiu que a companhia continua bem posicionada para manter um crescimento controlado e lucrativo, graças à sua estrutura de custos baixos, estratégia de cobertura de combustível e sólida saúde financeira.