À medida que 2024 chega ao fim, refletimos sobre um ano repleto de notícias da setor aviação. De boas notícias e avanços, mas também de falências a acidentes devastadores, os últimos 12 meses contaram com muitos eventos dignos de destaque.
Um início de ano turbulento
O ano começou de forma negativa com três eventos significativos logo em janeiro:
Colisão na pista de Tóquio (2 de janeiro)
Um Airbus A350-900 da Japan Airlines colidiu com um Dash 8 da Guarda Costeira do Japão no Aeroporto de Haneda, resultando em cinco mortes entre os ocupantes do Dash 8. Apesar do impacto, os 367 passageiros e 12 tripulantes do A350 foram evacuados em segurança. Este acidente levantou questões sobre protocolos de segurança e fadiga dos pilotos.
Problema em voo da Alaska Airlines (5 de janeiro)
Um Boeing 737 MAX 9 perdeu uma porta durante a decolagem em Portland, causando preocupações sobre a segurança das aeronaves deste modelo em específico da Boeing.
Bloqueio da fusão da Spirit Airlines e JetBlue (16 de janeiro)
A tentativa de aquisição da Spirit pela JetBlue foi bloqueada pelo Departamento de Justiça dos EUA, resultando em perdas financeiras para ambas. A Spirit declarou falência em novembro, após tentativas fracassadas de fusão com a Frontier Airlines.
Crises financeiras e falências/encerramentos
2024 foi um ano desafiador para diversas companhias aéreas. A guerra de tarifas nos Estados Unidos, somada a entregas atrasadas de aeronaves, prejudicou as receitas de muitas empresas. Entre as falências/encerramentos notáveis estão:
- Lynx Air (26 de fevereiro)
- Air Malta (31 de março)
- Canada Jetlines (15 de agosto)
- Czech Airlines (28 de outubro)
Incidentes com turbulência severa
Incidentes com turbulências severas foram recorrentes em 2024. Um dos mais graves foi o voo 321 da Singapore Airlines, que enfrentou turbulência intensa sobre Myanmar, causando a morte de um passageiro e ferimentos em 71 pessoas. Outros casos envolveram voos da Air Europa, Korean Air e Lufthansa, destacando a importância de políticas de segurança mais rigorosas.
2024 foi o ano com mais fatalidades na Aviação desde 2018
Com 101 fatalidades até novembro, 2024 já era infelizmente um ano preocupante para a segurança aérea. A 9 de agosto ocorreu o acidente com o voo 2283 da Voepass, no Brasil, com a queda do ATR-72 com 62 vítimas a lamentar.
Em dezembro, dois acidentes quase no final do ano aumentaram significativamente os números:
25 de dezembro: Azerbaijan Airlines
Um Embraer 190 despenhou-se no Cazaquistão, resultando na morte de 38 pessoas. São fortes as suspeitas de ter sido abatido por defesas anti-aéreas.
29 de dezembro: Jeju Air
Um Boeing 737-800 aterrou de emergência sem o trem de aterragem na Coreia do Sul, matando 179 pessoas.
Construtoras
O ano de 2024 apresentou desafios e conquistas para os dois maiores fabricantes mundiais de aeronaves.
Airbus
Em 2024, a Airbus consolidou a sua liderança no mercado aeroespacial, impulsionada pelo sucesso contínuo do A321neo, que dominou o segmento de narrowbodies e atraiu grandes pedidos de companhias aéreas em expansão. A empresa também avançou significativamente no desenvolvimento do A350 Freighter, que irá ampliar a sua presença no mercado de carga aérea, e manteve seu compromisso com inovação sustentável, investindo em tecnologias para aeronaves com zero emissões, como o conceito de propulsão a hidrogénio. A produção global foi acelerada, com foco em atender à crescente procura, apesar de desafios pontuais na cadeia de suprimentos.
No setor de sustentabilidade, a Airbus destacou-se ao reforçar parcerias para ampliar o uso de combustíveis sustentáveis (SAF) e apresentou avanços tecnológicos para reduzir a pegada de carbono da aviação. Além disso, a empresa expandiu suas operações nos mercados asiáticos e africanos, aproveitando o crescimento nesses setores. Apesar da competição acirrada com a Boeing e outros fabricantes emergentes, 2024 foi um ano marcado pela consolidação de sua posição de liderança e pelo fortalecimento de sua reputação como uma das empresas mais inovadoras e sustentáveis do setor.
2024 ficou igualmente marcado pelo primeiro voo comercial do Airbus A321XLR, após a entrega ao primeiro cliente, o Grupo IAG nas cores da Iberia. Esta nova opção da família A321neo de Extra Longo Alcance, conta já com mais de 550 ordens de compra firmes.
Boeing
Em 2024, a Boeing enfrentou grandes desafios relacionados com cadeia de suprimentos, com atrasos na entrega de peças essenciais e problemas com fornecedores estratégicos que prejudicaram sua produção, especialmente dos modelos 737 MAX e 787 Dreamliner. Questões de qualidade e inspeções adicionais agravaram os atrasos, enquanto a perda de mercado no segmento narrowbody para o Airbus A321neo expôs a necessidade de novos produtos competitivos.
Atrasos na certificação do novo Boeing 777X e do Boeing 737 Max 7 e Max 10 também continuam a afetar a construtora norte-americana.
No setor espacial, o programa Starliner continuou a enfrentar dificuldades técnicas, enquanto a concorrência com a SpaceX destacou limitações na execução de projetos aeroespaciais.
Além disso, a empresa lidou com pressão crescente por soluções sustentáveis, enfrentando críticas pela lentidão em avançar com tecnologias mais verdes. Regulamentações mais rigorosas, aumento de custos operacionais e desafios financeiros num mercado competitivo intensificaram o cenário de dificuldades. A percepção pública e a confiança do mercado seguiram frágeis, com problemas amplamente repercutidos nos media e investidores a exigir maior eficiência e resultados consistentes. Apesar dos esforços de recuperação, 2024 mostrou a necessidade de reformas estruturais para manter sua relevância no setor aeroespacial global. 2025 será um ano de grandes desafios para o novo CEO, Kelly Ortberg, que tomou posse a 8 de agosto de 2024.
Embraer
Em 2024, a Embraer continuou a fortalecer sua posição no mercado de aviação regional e executiva, consolidando-se como líder no segmento de jatos de médio porte. A família E2 de aeronaves regionais manteve um bom desempenho, com novos contratos significativos, especialmente em mercados emergentes da Ásia e da América Latina. Além disso, a empresa investiu em parcerias estratégicas e inovação tecnológica, com avanços no desenvolvimento de sua aeronave híbrido-elétrica, mostrando um compromisso firme com a sustentabilidade e a transição para uma aviação de baixo impacto ambiental.
O ano que agora termina também se traduziu em bons resultados para as vendas das aeronaves multimissão C-390 Millenium e o A-29 Tucano. A Embraer alcançou marcos significativos com o C-390 Millennium, ampliando sua presença no mercado internacional de aeronaves de transporte militar. Em julho, a empresa formalizou contratos para a venda de nove aeronaves, sendo cinco para os Países Baixos e quatro para a Áustria, com entregas previstas entre 2027 e 2030.
Em novembro, a Suécia selecionou o C-390 para substituir sua frota de C-130 Hercules. No mesmo mês, a Eslováquia anunciou planos de iniciar negociações formais para a compra de três aeronaves, reforçando o interesse europeu no modeloEm dezembro, a Embraer assinou um contrato com um cliente não divulgado para a venda de duas unidades do C-390, elevando para dez o número de países que selecionaram esta aeronave.
Além disso, o Marrocos manifestou interesse em substituir sua frota de C-130 Hercules pelo C-390 Millennium, indicando uma possível futura aquisição. Esses desenvolvimentos destacam a crescente aceitação e confiança no C-390 Millennium como uma solução versátil e eficiente para missões de transporte militar em diversos países.
No mercado de aviação executiva, a linha Phenom e Praetor continuou a ganhar reconhecimento global, atraindo novos clientes devido à sua eficiência, alcance e conforto. A Embraer também focou na expansão de seus serviços de suporte e manutenção, melhorando a sua rede global para oferecer maior proximidade e qualidade aos clientes. Apesar da concorrência acirrada com fabricantes maiores, 2024 foi um ano de crescimento consistente para a Embraer, marcado por inovação e estratégias que reforçaram sua relevância no setor aeroespacial.
A nível nacional
O ano de 2024 foi marcado por algumas decisões importantes a nível nacional que irão moldar os próximos anos do setor no nosso país.
Privatização da TAP Air Portugal
Após anos de incertezas, o processo de privatização da TAP avançou em 2024. O governo português anunciou a retoma do processo de privatização da transportadora nacional. O Governo quer concluir privatização da TAP em 2025, sem dar pistas sobre qual o modelo de venda a seguir, reiterando o que tem sido dito sobre a alienação: “A marca TAP vai manter-se; as ligações aéreas nacionais e para a diáspora portuguesa não serão reduzidas nem prejudicadas; Lisboa continuará como centro operacional da transportadora aérea”.
São conhecidas várias companhias interessadas com mais relevo para os concorrentes Lufthansa, Air France-KLM e IAG (dona da Iberia e British Airways).
Crescimento nos Aeroportos
Os aeroportos em Portugal registaram um aumento de tráfego, com destaque para Faro, Porto e Madeira. Este crescimento foi impulsionado por:
- Novas rotas anunciadas por companhias de baixo custo como Ryanair e easyJet.
- O aumento da procura turística, especialmente em regiões como o Algarve e a Madeira.
Decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa
O longo debate sobre a construção do novo aeroporto para Lisboa teve um capítulo importante em 2024. O governo confirmou o avanço do projeto do novo Aeroporto Luis de Camões, no Campo de Tiro de Alcochete, para além das obras de expansão para aliviar a saturação do Aeroporto Humberto Delgado.
Avanços tecnológicos no controlo de tráfego aéreo
A NAV Portugal implementou um novo sistema de gestão de tráfego aéreo, TopSky, reduzindo atrasos e melhorando a eficiência nos principais aeroportos do país. Este investimento tecnológico reforçou a posição de Portugal como um dos líderes na gestão eficiente do espaço aéreo europeu.
Groundforce Portugal adquirida pela Menzies Aviation
Em 2024, a Menzies Aviation concluiu a aquisição de 50,1% na Groundforce Portugal, mais de um ano após o anúncio do acordo para entrada do novo acionista, em março de 2023.
A conclusão do negócio marcou o compromisso da Menzies em reforçar a capacidade de ‘handling’ em toda a rede de aviação em Portugal, em parceria com a TAP, que mantém uma participação de 49,9% no capital.
A Groundforce Portugal passou a assumir a designação Menzies Aviation, integrando aquela que se apresenta como a maior empresa de serviços de aviação do mundo, com 45.000 colaboradores e operações em mais de 290 locais em mais de 65 países, em seis continentes.
Com mais de 4.000 funcionários em cinco aeroportos – Humberto Delgado em Lisboa, Francisco Sá Carneiro no Porto, Gago Coutinho em Faro, Cristiano Ronaldo na Madeira e do Porto Santo, na Madeira – a Menzies gere anualmente mais de 100.000 movimentos de aeronaves, prestando serviços de gestão de carga em terra e no ar a várias companhias aéreas.
Apesar dos desafios, 2024 foi um ano que reforçou a resiliência da aviação comercial e apontou para avanços importantes em tecnologia e sustentabilidade.
2025
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Votos de um Excelente Ano de 2025, em nome de toda a equipa.