A decisão do piloto em regressar à pista após falha do motor devido à falta de combustível esteve na origem da queda de uma aeronave de instrução no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor (Portalegre), em novembro de 2023.
“A perda de controlo da aeronave ao tentar regressar à pista, após perda de potência do motor por falta de combustível a bordo, foi a causa determinada para o acidente”, indica o relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), hoje divulgado e ao qual a agência Lusa teve acesso.
O acidente, que aconteceu na tarde de 10 de novembro de 2023, causou a morte ao piloto instrutor, de 36 anos, e ferimentos graves ao aluno, de 25, que recebeu cuidados médicos em duas unidades hospitalares, foi sujeito a várias intervenções cirúrgicas na face e nas pernas durante os seis meses de internamento, seguido de um longo processo de recuperação.
O GPIAAF diz que a abordagem clássica e comum dos vários intervenientes com responsabilidades na defesa da segurança operacional, sejam pilotos, instrutores, examinadores, gestores de segurança, é a aprendida na sua formação inicial e contínua.
E defende que, se o motor parar na descolagem, aterre em frente e resista ao impulso de regressar à pista.
“No entanto, os dados mostram que é um conceito frágil e não produz resultados, como aliás, o evento [acidente] demonstrou. O piloto instrutor realizou e ensinou este exercício inúmeras vezes e, quando confrontado com a realidade, a decisão foi outra”, sublinha a investigação.
O organismo responsável pela investigação adverte que “tentar o regresso à pista antes de atingir a altitude de circuito (ou uma altitude segura para cada modelo de aeronave), é um exercício arriscado e pode ter consequências fatais”.
Um “fator decisivo” para o acidente foi, de acordo com o GPIAAF, “a decisão de realizar circuitos de aeródromo após divergirem para o aeródromo alternante [Ponte de Sor] para cumprimento dos tempos de voo previstos para a missão de treino e sem ser considerado o combustível remanescente a bordo”.
Segundo a investigação, “as limitações da aeronave, nomeadamente a falta de fiabilidade na indicação da quantidade de combustível a bordo sem uma indicação visual de baixo nível independente e eficaz, levando as tripulações a desconsiderar os indicadores no planeamento e acompanhamento durante o voo, terá contribuído para o processo de decisão de realizar circuitos após regresso ao aeródromo”.
A aeronave Reims Cessna F150J descolou do aeródromo de Ponte de Sor, pelas 14:00, para um voo de instrução com um instrutor e um aluno piloto a bordo.
Após realizarem um voo para Sul até uma zona a Oeste de Évora, regressaram ao aeródromo de Ponte de Sor para treino de voo local com circuitos de aeródromo na pista de serviço, sem qualquer reporte de anomalias ou dificuldades técnicas.
Às 15:46, na linha de subida da pista para o que seria o último circuito de treino, a cerca de 170 pés (aproximadamente 52 metros de altura), “o motor da aeronave evidenciou problemas de funcionamento, recuperando logo de seguida para rotações de potência de descolagem e, em sequência, terá perdido a potência por completo”.
Segundo o GPIAAF, a aeronave ligeira, a sobrevoar a zona da soleira da pista, tentou o regresso à pista com uma volta à direita por alguns instantes, seguindo-se uma volta de aproximadamente 180° também pela direita em descida não controlada.
“Decorrente da perda de controlo, e sem recuperar de uma atitude de nariz em baixo pronunciada, a aeronave colidiu com o solo, imobilizando-se em poucos metros”, lê-se no relatório final ao acidente.