A entrada de emergência da companhia estatal Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) nas ligações interilhas, há três meses, melhorou o serviço, mas persistem falhas, que a TACV justifica com questões técnicas.

Ainda há “muitos cancelamentos” de voos, o que “atrapalha a atividade turística”, disse à Lusa Marvela Rodrigues, responsável pela agência Praiatur, na capital do país, sem conseguir quantificar, mas com registos suficientes para ficar insatisfeita.

Segundo Marvela Rodrigues, a agência tem recebido pedidos de visitantes, mas não lhes pode apresentar “nenhum pacote turístico que junte várias ilhas”, porque receia o que aconteça com os voos domésticos.

A TACV salvou a operação que a concessionária Bestfly deixou de realizar, mas ainda falta fiabilidade nas ligações, disse.

“Para [passageiros] nacionais até vendemos [bilhetes], porque já estamos habituados aos cancelamentos” e o cliente “não vem hoje, vem amanhã, não há grandes riscos. Mas para operadores internacionais não vendemos”, referiu.

Hélia Pinto, responsável por uma agência de viagens na ilha da Boa Vista, nota melhorias, mas disse que “falta concorrência” para os clientes terem “liberdade de escolha” com maior variedade de preços, sem serem “obrigados a comprar algo que não querem”.

Jorge Santos dirige uma agência na ilha de São Nicolau, uma das mais sacrificadas pelas limitações da pista, mas, mesmo assim, agradece a entrada da TACV no mercado doméstico.

“O trabalho tem sido positivo e tem dado boa cobertura” aos pedidos recebidos pela agência, indicou à Lusa, na expectativa de que as melhorias continuem.

Também Miguel Carneiro, diretor da agência Barracuda Tours, na ilha do Sal, afirmou que, apesar dos cancelamentos de alguns voos, a operação da TACV merece avaliação positiva – sugerindo melhor articulação entre transportes aéreos e marítimos.

Em entrevista à Lusa, Carlos Salgueiral, administrador da TACV, referiu que os cancelamentos têm sido provocados por questões técnicas e avarias. 

“Tentamos minimizar o impacto desses cancelamentos, mas temos de esperar que [as avarias] sejam resolvidas. Muitas vezes envolve o envio de peças, que têm de vir do exterior e leva o seu tempo. É uma coisa normal na aviação”, disse.

A companhia tem dois aviões alugados para voos domésticos, número que diz ser adequado para responder à procura, só que, quando apenas uma aeronave está disponível, surgem as falhas na operação – como está a acontecer esta semana, devido à avaria de um dos aviões.

“Garantir a segurança de todos os passageiros é o principal bem da empresa, portanto são situações que infelizmente teremos de respeitar”, indicou.

Ainda assim, Carlos Salgueiral referiu que, “comparativamente ao número de voos efetuados, o nível de cancelamentos é muito reduzido”, com a TACV a tentar “repor e reprogramar os voos logo que possível”.

“A entrada na operação doméstica foi solicitada pelo Governo em regime emergencial”, recordou aquele responsável.

“Foi tudo muito rápido, inclusive para conseguirmos reunir as condições de forma a responder à solicitação no mais curto espaço de tempo”, frisou.

O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, reconheceu este mês que as ligações só serão estabilizadas com mais aviões, prometendo que a situação estará resolvida até final do ano com uma nova companhia 100% estatal dedicada aos voos interilhas.

Essa companhia terá mais aeronaves, adaptadas a cada ilha, para garantir que podem usar as pistas mais pequenas e para minimizar custos nas que têm menos fluxo de passageiros, que beneficiaram de uma subvenção para garantir o serviço público de transporte, referiu.